Resenha do artigo “From Social Ties to Social Capital: Class Differences in the Relations Between Schools and Parents Networks” – Erin McNamara Horvat; Elliot B. Weininger; Annette Lareau
American Educational Research journal; Summer 2003; vol. 40, No. 2; o. 319-351

Por Diana Mandelert

        Neste artigo são examinadas as diferenças na maneira como famílias de classe média, trabalhadora e "pobres" (poor parents) utilizam suas redes sociais para resolver problemas com relação à escolarização dos filhos. Em especial, foi pesquisada a questão de quando e como o capital social pode habilitar certos atores a contestarem os julgamentos e atitudes daqueles que ocupam posições de autoridades institucionais: professores e profissionais da escola. Para isso foram feitas entrevistas e observação com 88 crianças de 3ª e 4ª série e suas famílias de três escolas diferentes de diferentes cidades dos EUA. A escolha desta faixa etária foi feita tendo em vista que nesta fase os pais ainda estão muito envolvidos na escolarização dos filhos e as crianças começam a ter maior autonomia no seu tempo de lazer.

        As famílias de classe média foram assim consideradas porque pelo menos um dos adultos tinha como função um posto de gerenciamento, ou tinha alguma expertise específica. As famílias que não tinham nenhum membro com estas características foram agrupadas como classe trabalhadora. Na categoria de famílias pobres foram inseridas aquelas assistidas pelo governo, fora do mercado de trabalho, no nível de subsistência.

        Um dos problemas da pesquisa foi a homogeneidade encontrada nas populações atendidas por cada escola. Esta situação pode ter enviesado os resultados, pois talvez o efeito-escola tenha influenciado.

        As famílias de classe média tendem a construir sua rede social a partir da vida dos filhos, principalmente através das atividades nas quais eles participam, assim como nos contatos informais com educadores e profissionais. Já as famílias de classe trabalhadora e pobres tendem a estar enraizadas nos grupos familiares, as ligações com outros pais e profissionais sçõo pouco comuns. Isto porque, no que tange às atividades dos filhos, a média de atividades na classe média mé de 5 por semana, na classe trabalhadora 3 e nas famílias pobres 2.

        Tanto as famílias de classe média quanto às outras assinalaram amizade com colegas de trabalho e vizinhos. As famílias de classe média tinham a tendência de ver menos seus familiares do que as outras classes. Outra diferença foi a presença de familiares na vida diária das crianças de classe trabalhadora e pobre muito mais do que nas atividades centradas na escola.

        De acordo com as observações feitas pelo grupo de pesquisa, ocasionalmente professores e profissionais da escola maltratavam os alunos empurrando ou sacudindo-os, ou ainda torcendo seus braços. Este tipo de fato criou explosões coletivas entre as famílias de classe média, já nas outras amílias gerou raivas isoladas ou uma aceitação resignada.

        Outra grande diferença é que as famílias de classe média tendem a ter estratégias feita "sob encomenda" para a trajetória escolar dos filhos. Já os pais da classe trabalhadora e das famílias pobres acreditavam que não tinham capacidade ou direito de intervir em situações sob a jurisdição do que os autores denominaram de "gatekeepers", isto é, quem toma conta da porta de entrada.

        Os autores acreditam que a partir dos dados encontrados, apesar da metodologia utilizada, é possível pensar que o conceito de "fechamento intergeracional" (intergenerational closure) de Coleman é basicamente um fenômeno de classe média. As famílias de classe trabalhadora e pobres demonstram um fechamento intergeracional mais circunscrito aos parentes.

        Estas diferenças ficam claramente associadas às maneiras como as famílias lidam com os problemas da escola. Pais de classe trabalhadora e pobres têm respostas individuais e não contam com nenhum suporte de suas redes sociais para resolvê-los. Já as famílias de classe média tendem a reagir coletivamente, mesmo quando agem de forma individual eles têm a possibilidade de um envolvimento coletivo.